Abril é o mês escolhido para a campanha de conscientização do Transtorno do Espectro Autista (TEA), conhecido como Abril Azul. É um período dedicado a ampliar o debate, combater o preconceito e promover a inclusão de pessoas que vivem no espectro.
Em meio a tantos debates e aos avanços da tecnologia e da ciência, uma pauta tem ganhado cada vez mais visibilidade nas redes sociais, rodas de conversa e nos consultórios médicos: o diagnóstico tardio do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Muitas vezes, esse reconhecimento só aparece depois de muito tempo em que os sinais se acumulam sem alarde.
Exemplos de diagnóstico tardio do Autismo em famosos
Nos últimos anos, várias personalidades públicas declaram que só receberam o diagnóstico na vida adulta, e frequentemente depois de longos anos marcados por episódios de sofrimento emocional, isolamento social ou aquela sensação persistente de ser “diferente”.
Esses relatos, que vão se repetindo de um jeito quase casual, têm ajudado milhares de pessoas a enxergarem seus próprios comportamentos sob uma nova perspectiva, com outros olhos, como se pudessem redescobrir partes esquecidas de sua história.
Celebridades ajudam a romper o silêncio
A atriz Letícia Sabatella recebeu o diagnóstico aos 52 anos. Para ela, foi como encontrar uma peça que faltava em sua história. “Foi uma sensação libertadora”, afirmou em entrevistas. A hipersensibilidade sensorial, principalmente auditiva, sempre esteve presente em sua vida e hoje ela entende que isso faz parte de como seu cérebro percebe o mundo.
Outro exemplo é o humorista Danilo Gentili, que também se deparou com esse diagnóstico na idade adulta. Ele começou a perceber que alguns de seus traços ou comportamentos, como uma certa rigidez nas rotinas e um foco exagerado em temas específicos, merecem um olhar clínico mais profundo e foi então que procurou especialistas.
A atriz britânica Bella Ramsey, estrela da série The Last of Us, compartilhou uma trajetória semelhante. Diagnosticada durante as gravações da série, Ramsey também descreveu o diagnóstico como libertador, uma palavra recorrente entre adultos que descobrem o autismo tardiamente.
Até o vencedor do Oscar Anthony Hopkins revelou seu diagnóstico, recebido aos 70 anos. E a ativista ambiental Greta Thunberg, embora diagnosticada na adolescência, tem sido uma voz importante ao mostrar que o autismo também pode ser uma força de expressão e ação política.
Por que os diagnósticos de TEA em adultos estão crescendo?
O aumento dos diagnósticos de autismo em adultos se deve a diversos fatores:
- A ampliação e atualização dos critérios diagnósticos, como os estabelecidos no DSM-5 (sigla para Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, que significa Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, publicação da Associação Americana de Psiquiatria (APA) que serve de guia para o diagnóstico e tratamento de transtornos mentais), têm permitido identificar uma gama mais ampla de manifestações do espectro autista.
- Além disso, a crescente conscientização pública, a popularização de relatos das celebridades em suas redes sociais e a redução do estigma associado ao autismo incentiva mais pessoas a buscar avaliação de profissionais da saúde.
- O acesso facilitado a informações e recursos, bem como a formação contínua de profissionais de saúde, também contribuem para a identificação de casos anteriormente não reconhecidos.
Mas afinal, como saber se estou no espectro?
O autismo em adultos pode se manifestar de forma diferente da infância, muitas vezes através de sinais mais sutis. Em geral, os sinais são mais sutis e frequentemente mascarados por mecanismos de adaptação desenvolvidos ao longo da vida.
Ainda assim, há alguns comportamentos que podem acender um alerta:
- Dificuldade em manter interações sociais ou compreender sutilezas da comunicação;
- Sensibilidade extrema a sons, luzes, texturas e cheiros;
- Preferência por rotinas e resistência a mudanças;
- Hiperfoco em determinados interesses;
- Dificuldade em identificar e expressar emoções;
- Cansaço extremo após interações sociais (fenômeno conhecido como “esgotamento social”).
Adultos com diagnóstico tardio frequentemente relatam histórico de ansiedade, depressão ou esgotamento mental, muitas vezes decorrentes de anos tentando se encaixar em padrões neurotípicos.
Como é feito o diagnóstico de Autismo em adultos?
O caminho para o diagnóstico do TEA em adultos costuma começar com a escuta atenta dos próprios sinais. Sentir que “algo não encaixa” pode ser o primeiro passo.
A partir daí, é fundamental buscar profissionais qualificados, como:
- Psiquiatras, com experiência em neurodesenvolvimento;
- Neurologistas, que podem descartar outras condições;
- Psicólogos clínicos, que realizam entrevistas e testes diagnósticos;
- Neuropsicólogos, que aplicam avaliações cognitivas e comportamentais detalhadas.
O diagnóstico é clínico, ou seja, feito a partir da observação de comportamentos, histórico pessoal e familiar, além da aplicação de instrumentos como ADOS-2, uma ferramenta de avaliação que utiliza atividades estruturadas para observar o comportamento de pessoas com suspeita de TEA e entrevistas estruturadas com base na neuropsicologia.
Tratamentos de apoio para adultos com TEA
Saber-se autista pode ser, sim, uma chave de libertação. Muitas pessoas passam a compreender melhor suas necessidades sensoriais, emocionais e sociais, e com isso conseguem ajustar seus ambientes e relações.
O papel da Cannabis Medicinal
Terapias específicas, comunidades de apoio, redes sociais voltadas à neurodivergência e até o uso de ferramentas terapêuticas como a Cannabis Medicinal, já estudada para comorbidades como ansiedade e insônia, podem ser aliadas nesse processo de reencontro consigo mesmo.
Além disso, os derivados da Cannabis, especialmente o canabidiol (CBD), têm se mostrado uma ferramenta terapêutica promissora para pessoas no espectro, especialmente no alívio de comorbidades como ansiedade, distúrbios do sono, irritabilidade e crises sensoriais.
Estudos recentes indicam que o uso de produtos à base de Cannabis pode melhorar significativamente a qualidade de vida de adultos com TEA, inclusive permitindo a redução do uso de medicamentos convencionais, como benzodiazepínicos e neurolépticos.
Embora o uso não tenha como foco “tratar o autismo”, os canabinoides podem auxiliar na regulação do Sistema Endocanabinoide (SEC), responsável pelo equilíbrio de processos como o humor, o sono, a dor e a resposta ao estresse, promovendo mais bem-estar e estabilidade emocional.
No Brasil, o acesso a esses medicamentos ainda enfrenta barreiras, mas tem avançado com o apoio de associações como a Santa Gaia, profissionais prescritores e decisões judiciais.
Abril Azul é sobre acolher todas as fases da vida
Ao falarmos de autismo, é fundamental lembrar que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento presente desde o nascimento.
No entanto, muitos adultos só recebem o diagnóstico tardiamente, o que pode impactar significativamente sua qualidade de vida. O diagnóstico tardio pode levar a anos de sofrimento psíquico, incluindo transtornos como depressão, ansiedade e esgotamento mental, muitas vezes decorrentes de tentativas de se encaixar em padrões neurotípicos.
Por isso, é crucial ampliar o conhecimento sobre o espectro autista para além da infância, tanto entre profissionais da saúde quanto na sociedade em geral.
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